- Toma aqui, Marinho. Quinze centavos.
Estamos quites agora.
- Quites com o quê?
- Por acaso você não se lembra de ontem, no carro, quando você me ofereceu um Halls e aceitei?
- Sim, mas e daí?
- Então, vi hoje que um drops de Halls custa R$1,50. Como temos dez balas num drops inteiro, cada uma sai por quinze centavos.
- Não acredito. Você vai chegar nesse nível, Lúcia? Vai me pagar até a bala que dei pra você???
- Ué, é claro que sim, Marinho. Sou uma mulher independente. Homem nenhum paga minhas contas. Isso ainda não ficou claro pra você?
- Mas era só uma balinha…
- Sei, sei… hoje é uma balinha, amanhã é um sorvete, depois um jantar no restaurante mais chique da cidade, até chegar no dia em que ganho um carro zero de você. Nem vem, que eu não caio nesse conto machista, não. Homem nenhum me suborna. Tolerância zero!
- Ei… então… todos aqueles depósitos misteriosos na minha conta… era você! É mesmo, isso vem desde o começo de nosso namoro…
- Cada centavo gasto comigo, garantia de reembolso, meu bem. Rachar é o meu lema.
- Até as camisinhas?
- Claro que sim. Afinal você nunca as usou sozinho, concorda?
- Sim, mas… mas no caso da bala…
- Ai Marinho, o que foi? Por acaso você quer uma mulherzinha tradicional, dessas que lavam sua cuequinha, é? Virou machista agora?
- Meu anjo, a bala foi apenas uma gentileza…
- Gentileza? Sei… sei… Até parece… Afe!
O macho confuso
- Tiago, você poderia me responder a uma pergunta, sinceramente?
- Sim.
- Porque você me convidou pra sair?
- Porque gosto de você, ora essa.
- Nossa, imagine se me odiasse. Tadinha de mim.
- Mas o que fiz de errado?
- A conta do restaurante, Tiago! A conta!!! Você me fez rachar a conta com você!
- Mas eu me ofereci pra pagá-la inteira. E você disse que fazia questão de rachar comigo, Bianca… Não estou entendendo…
- Bem, pelo jeito, você não entende nada de mulher mesmo. Nessas horas, quando uma mulher se oferece pra rachar a conta, tudo que um homem tem que fazer é discordar dela e pagar a conta inteira. É um jogo, entende?
- Não. Eu imaginava que você fosse dessas mulheres independentes.
- Mas eu sou independente. Acontece que existem tradições, sabe? Quando um homem gosta de uma mulher mesmo, não deixa ela pagar a conta, de jeito nenhum!
- Mas eu gosto de você. Na verdade, é mais do que isso. Eu… eu… te amo! Olha, me dê o número da sua conta, que amanhã mesmo eu deposito a sua parte da janta. Me dê mais uma chance, Bianca, por favor!
- Meu filho, essa foi a sua primeira e última chance comigo, tchau e passe bem. Eu hein?
- Espere. Deposito o dobro! Não, o triplo! Melhor, todo um mês de jantar! Que tal?
- Tarde demais… tarde demais…
- Olha, fica com o meu carro, novinho em folha. Toma aqui as chaves dele. Pronto, é seu. Viu agora o quanto eu te amo?
- Amor…
- Sim?
- O tanque está cheio?
Tuca Hernandes
Fonte: Fiapo de Jaca